Readaptar o cérebro a ouvir certos sons leva um tempo, pode ser cansativo, frustrante e é necessário paciência e resiliência
Chegar ao diagnóstico da necessidade de um aparelho auditivo muitas vezes leva tempo. É necessário vencer barreiras como vergonha, falta de hábito de uma consulta periódica para verificar a qualidade da audição, preconceito com a própria idade, que nem sempre está associada ao problema, porém em muitos casos sim. Entre outras tantas dificuldades.
Quando finalmente se tem contato com o aparelho parece que tudo irá se resolver de uma vez e existe aquela ansiedade e expectativa de retomar a vida de ouvinte exatamente como antes da perda.
Entretanto nem sempre é assim. Readaptar o cérebro a ouvir certos sons leva um tempo, pode ser cansativo, frustrante e é necessário paciência e resiliência para entender que alguns sons e sensações serão um pouco diferentes desse momento em diante.
Algumas dicas podem ser de grande valia em momentos de cansaço e vontade de desistir.
Veja algumas sugestões de como passar por essa fase difícil.
Persistência e controle das expectativas.
Quando encontramos a solução de algum problema, seja ele qual for, criamos em nossa cabeça a vontade de finalmente conseguirmos resolver tudo. No caso de pessoas que desejam muito voltar a vida de ouvinte essa expectativa pode ser motivo de frustração. O primeiro contato com o aparelho auditivo não trará todos os sons perfeitamente audíveis para a vida do usuário. Serão necessários dias de treinamentos, e persistência. Nos primeiros dias são comuns dores de cabeça, incômodos e frustrações. Mas com o passar do tempo a qualidade de vida do usuário pode se tornar muito melhor. Não desista e adapte suas expectativas para evitar insatisfações.
Treinamento faz toda a diferença
Não queira colocar o aparelho auditivo e sair no primeiro dia de uso para um festa com música, conversa, tilintar de copos e ruídos de todos os tipos. Antes de reviver momentos assim, algumas etapas são necessárias. Comece utilizando o aparelho em casa, o maior tempo que conseguir. Quando se encontrar cansado ou irritado, pode retirá-lo um pouco. Mas sem desistir. Saiba que faz parte do processo. Treine sozinho, focando em sons conhecidos, um carro que passe na rua, o toque do telefone ou da campainha, uma notícia no jornal, ou uma música menos ruidosa que goste de escutar. Conversar com você em voz alta também é interessante. Outro ponto que ajuda é conversar com uma pessoa de cada vez, evitar que assuntos e tons de vozes se sobreponham ajuda a organizar novamente seu cérebro para os sons.
Tenha acompanhamento de um bom profissional
Além de auxiliar no diagnóstico, ter bons profissionais por perto é fundamental na fase de adaptação ao aparelho auditivo. Um fonoaudiólogo especializado e treinado, poderá esclarecer sobre a fase inicial do uso, além de fazer revisões e adequação ao aparelho auditivo. Uma dica interessante ao novo usuário é anotar todas as dificuldades diárias, momentos em que ouve melhor ou pior, sons que incomodam, frustrações, e nas consultas periódicas, ou sempre que for necessário relatar tudo ao profissional que o acompanha. desta forma com pequenos acertos será mais rápida e menos frustrante a adaptação ao uso do aparelho.
Converse com quem já passou por essa etapa.
Quando nos sentimos sós e mal compreendidos, é comum ficarmos perdidos, cabisbaixos e com vontade de desistir de tudo. Por isso conversar com pessoas que já passaram pelo mesmo que o usuário do aparelho está passando é uma dica que pode esclarecer dúvidas, trazer esperança e pertencimento. Tudo isso é um excelente combustível para a persistência e engajamento na continuação da adaptação ao aparelho. Buscar por grupos de pessoas com dificuldades auditivas, poderá trazer mais luz ao processo vivido.
Não engate conversas em lugares muito barulhentos.
Em um primeiro momento o ideal é o usuário conversar com poucas pessoas e em locais tranquilos, onde ele possa focar somente na conversa e em seus sons. Alguns fonemas podem ser mais difíceis de entender e o engajamento real, sem grandes distrações é de grande valia. Lugares muito barulhentos geram sons que podem confundir o cérebro que está reaprendendo a ouvir e criar frustrações desnecessárias. Se já conseguir conversar com uma pessoa, passe para duas e depois busque locais mais movimentados e aos poucos o usuário estará pronto para uma vida social ativa e movimentada.
Use e abuse de toda tecnologia que seu aparelho possua
Muitos aparelhos auditivos hoje em dia possuem tecnologias acopladas que ajudam bastante os usuários. Primeiramente podem ser conectados a tvs, sons e smartphones, o que dá acesso a aplicativos que podem servir como bons treinamentos, escutar podcasts, músicas, séries na televisão, tudo isso faz parte da adaptação ao aparelho. Também o próprio aparelho pode ajudar a mascarar ruídos incômodos, e os mais modernos até auxiliam seu cérebro nessa reaprendizagem ao mundo dos ouvintes.
Dores constantes não são normais
Sentir incômodos e algumas dores de cabeça, no início não é raro, no entanto não se descuide acreditando que todas as dores que sentir fazem parte do processo. O aparelho auditivo chega para mudar a vida do usuário para melhor e não para criar um tormento. Sendo assim, fique atento aos sinais que seu próprio corpo der. Anote quando as dores aparecem, se estão relacionadas a algum momento ou som específico e faça relatos constantes aos profissionais que o cercam.
É fundamental ter em mente que o uso do aparelho auditivo é de grande ganho para a vida do usuário. Voltar a ter uma vida social eleva a qualidade de vida e melhora estados de desânimo, além de permitir um estilo de vida com exercícios físicos e segurança ao andar na rua. Sendo assim, o quanto antes for diagnosticada a necessidade do uso do aparelho auditivo e quanto mais rápida e eficaz for a adaptação a ele, mais cedo o usuário retomará uma vida saudável física e emocionalmente.
Por isso não desista, seja persistente e não tenha vergonha de usar um aparelho que trará para sua vida as experiências que tanto você merece viver.
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